Colóquio discute midiativismo nas redes e metodologia interdisciplinar em pesquisas

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Arthur Marchetto

As diferenças nos processos comunicacionais atuais têm trazido à tona algumas discussões, como a atividade de agentes sociais e políticos nas redes e a construção de um novo espaço comunitário e também de ativismo para a reivindicação de direitos comuns. A complexidade do sistema também traz a possibilidade de diferentes áreas trabalharem juntas em uma mesma pesquisa para trazer resultados mais refinados e aprofundados.

Pensando em discutir essas questões, o Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PÓSCOM) da Universidade Metodista de São Paulo e o Núcleo de Estudos de Comunicação Comunitária e Local (COMUNI), com apoio da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM) e da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), promoveram IX Colóquio Internacional de Comunicação sob a temática “Ação social e pesquisa interdisciplinar”.

Para o colóquio, o Dr. Francisco Sierra Caballero (Universidad de Sevilla/Espanha e Diretor do CIESPAL/Equador) falou sobre “Videoativismo e novas práticas emancipadoras”. O Dr. Jorge A. González (Labcomplex e UNAM/México) apresentou “O estudo dos processos de comunicação partindo de uma metodologia interdisciplinária”.

Videoativismo e novas práticas emancipadoras

A primeira apresentação foi conduzida por Francisco Sierra, que comentou alguns resultados das pesquisas do Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina (CIESPAL), empreendidas nos últimos doze anos, sobre as tecnologias da informação e suas relações com a cidadania. A relação é feita na ligação entre cibercultura, políticas, processos e dinâmicas de apropriação, com um olhar amplo nos processos sociais e evitando a visão exclusivamente instrumental.

A pesquisa apresentou novas dinâmicas e mudanças nas relações entre a sociedade, os meios de comunicação e as formas de se chegar até a informação. Tais mudanças ocorrem a partir de um novo modelo de organização político-econômica, o capitalismo cognitivo, que é extremamente dependente da produção de informação e de capital cultural. Além disso, se baseia no princípio de conexão e de criatividade social da modernidade, que é definida pela rápida intercambialidade entre círculos. O efeito ocorre devido à uma nova economia social da comunicação, gerada dentro da estrutura e de seus processos de mediação, que criou possibilidades para um novo espaço comunitário/comum.

Neste contexto, Sierra comenta sobre o aparecimento de uma nova estética nos movimentos de contracultura e, consequentemente, uma nova subjetividade política. “Os sujeitos políticos são muito diferentes atualmente, têm outros modos de se relacionar, de fazer intervenção”, comenta Sierra, e é isso que afeta e modifica o midiativismo. Francisco Sierra usou como exemplo a inciativa do Mídia Ninja: o fluxo de seu material, a conexão em rede/conectividade social, o papel do público na iniciativa, as plataformas e o método de produção utilizados.

O atual sistema de produção apresentou dualidades e controvérsias, expostas pelo pesquisador numa lista de dez itens: a. Narcisismo e individualismo vs. socialização – como a cultura da imagem, narcisista convive com a experiência anônima da produção de conteúdo social?; b. Resiliência ou reprodução – Os novos meios criam uma nova lógica de produção ou acabam reproduzindo aquela adotada pela grande mídia?; c. Alcance e estrutura real da comunicação – Qual a real potencialidade da estrutura da rede e qual a estrutura dominante nos meios digitais? Há alguma espécie de censura na internet?; d. Ação coletiva vs. impacto midiático – Quanto uma ação coletiva pode competir com o impacto das imagens?; e. Espetacularidade vs. Consciência – Como a reificação dos processos sociais pela sociedade do espetáculo, que prioriza o impacto da imagem, afeta o conteúdo social do produto desenvolvido?; f. Arte pública e racionalidade instrumental – Qual o papel da imagem na arte pública no midiativismo, tanto nos movimentos urbanos quantos nos rurais?; g. Articulação vs. autonomia – As articulações incluem a diversidade? São produzidos por grupos autônomos e isolados ou por grupos conectados e articulados? O grupo é retroalimentado pelo conteúdo, ou o material circula por um grupo maior?; h. Alternativo vs. independente – Quais são as novas delimitações entre as duas produções e seu alcance?; i. Produção cooperativa vs. divisão social do trabalho criativo – Existe uma divisão social do trabalho na produção ou ela é cooperativa e co-gestada?; j. Uso social vs. supervalorização da imagem – Até que ponto a imagem é supervalorizada e o cinema é utilizado como reforço do capital? Qual o valor de uso da imagem? Há uma reificação do midiativismo?

Por fim, Sierra comentou sobre os golpes midiáticos que estão sendo pesquisados no CIESPAL e ressaltou alguns pontos que caracterizam a chamada “privatização do campo do bem comum”. O primeiro ponto é que a fonte primária de informação é a TV e, como os meios estão cada vez mais hiperconcentrados, se restringe o acesso às outras informações. Além disso, os meios de comunicação não estão mais nas mãos de grandes famílias e são, cada vez mais, companhias regidas por grupos do capital financeiro.

O estudo dos processos de comunicação partindo de uma metodologia interdisciplinária

Jorge González fez a segunda apresentação do colóquio e explicou como funcionam e quando trabalhar com metodologias interdisciplinárias. Primeiramente, uma metodologia interdisciplinária só se utiliza ao tratar de sistemas complexos. Um sistema complexo é caracterizado por possuir muitos componentes, interações intensas, muitas escalas, comportamentos comuns, conforme exemplo apresentado na imagem abaixo:

Sistema complexo
Os componentes interagem dinamicamente e criam níveis ou escalas diferentes no processo que exibem comportamentos comuns

Sendo assim, os conhecimentos só podem ser classificados como interdisciplinares “a posteriori”, ou seja, só podem ser designados como tal depois de um estudo prévio que demonstre a existência de todos os elementos enumerados. O exemplo utilizado por González é o do campo da comunicação.

Quando as características são encontradas e o estudo já se caracteriza como um estudo multidisciplinar é preciso montar uma equipe multidisciplinar, com diversos profissionais de diversos campos para pesquisar um assunto e, em seguida, definir três pontos em conjunto: primeiro, um marco epistémico – fazer uma lista de todas as perguntas que são possíveis de serem respondidas. Depois, definir ummarco conceitual. Qual a “cultura científica” utilizada para responder as perguntas? Quais das perguntas listadas devem ser feitas? Por último, o marco metodológico, para definir os caminhos que deverão ser traçados para responder cada pergunta.

Os resultados de cada pesquisa ficam intrinsicamente ligados com as formas sociais em que o conteúdo foi pesquisado, com o espírito do seu tempo e acabam se relacionando com os mecanismos construtivos, passíveis de revisão e aprofundamentos em diversos estudos, seguindo imagem abaixo.

mecanismos construtivos
Os elementos de uma pesquisa se relacionam entre si, saindo do nível individual, passando para o de um grupo e atingindo um sistema inteiro e suas relações. Após os contatos, o ponto volta a ser um elemento único e percorre todo o processo novamente

Tomado de UNESCO – Metodista: http://portal.metodista.br/unesco/jbcc/noticias-jbcc/coloquio-discute-midiativismo-nas-redes-e-metodologia-interdisciplinar-em-pesquisas

Francisco Caballero e Jorge González discutem ativismo social e pesquisa interdisciplinar

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06/09/2016 12h15

Francisco Caballero e Jorge González discutem ativismo social e pesquisa interdisciplinar

Na última segunda-feira (05) foi realizado o IX Colóquio Internacional de Comunicação: ação social e pesquisa interdisciplinar. Promovido pelo Comuni, Núcleo de Estudos em Comunicação Comunitária, e o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo, o evento contou com a presença de duas autoridades da comunicação: Dr. Francisco Sierra Caballero e Dr. Jorge A. González, a discussão foi mediada pela professora Cicília Peruzzo, docente da Pós-Graduação em Comunicação e líder do grupo de pesquisa Comuni.

Videoativismo

Docente da Universidad de Sevilla e diretor do Ciespal (Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para América Latina) do Equador, Caballero discutiu o videoativismo e novas práticas. “Esse é um tema muito atual e ontem pude ver isso de perto durante os protestos e os grupos como Mídia Ninja”, conta o professor.

Ele fala das coberturas realizadas na internet, por grupos individuais, como uma forma de interação da sociedade com as novas tecnologias, que “abre universos de possibilidades, de inovação social e mudanças sem comparação na história”. Nessa mudança, explica que existe também uma alteração dos autores, que “se manifesta como outra forma de contar e outras estéticas de manifestação social”.

Apesar disso, Caballero ressalta que o videoativismo não surgiu agora. Nos anos 60, 70 já existiam manifestações em que artistas utilizavam o visual como maneira de mobilização, em movimentos como direitos da mulher e das pessoas negras. O próprio cinema latino-americano é usado como exemplo, Glauber Rocha fez parte de uma proposta coletiva e libertadora. Também foram citados como exemplos, ações de educomunicação e movimento de trabalhadores organizados.

Nesse processo, no entanto, acontecem também problemas como a tensão entre individualização e socialização, espetacularização e consciência, produção cooperativa e divisão social do trabalho criativo.

Metodologia Interdisciplinar

O professor Dr. Jorge A. González, docente da Universidad Nacional Autónoma de México, conversou com o público a respeito de pesquisa interdisciplinar. Ele ressaltou em sua palestra que, muitas vezes, as pesquisas dentro da Universidade ficam focadas em suas áreas de conhecimento e não realizam um intercâmbio entre si. “As formas em que organizamos esse conhecimento ficam inseridas no texto”, diz.

González explica que a interdisciplinaridade se explica para estudar um sistema complexo que contenha: muitas escalas, muitos componentes, interações complexas e comportamento comum. Para estudar, por exemplo, o aumento de peso dentro de uma comunidade, é preciso formar uma equipe multidisciplinar com biotecnólogos, historiadores, educadores, médicos, economistas e comunicólogos. “O conhecimento existe quando há uma forma de construção integrada”, explica.

O processo de construção do conhecimento deve ser realizado com: questões para problemas de condições para custos, problemas para as perguntas, perguntas para atividades, atividades para o registro das propriedades, propriedades para a inferência das relações, relações do estabelecimento do estado, estados para a inferência das transformações, transformações para modelagem dos processos e processos para novas questões.

“O conhecimento não pode ficar apenas na área das ideias, conhecimento é ação e transformação”, argumenta o professor. Para ele, a resistência para interagir com outras áreas de conhecimento vem de muito antes da academia e esse preconceito atrapalha o pensar e o processo científico.

O Portal da Metodista entrevistou os dois professores, confira abaixo:

– Em um país grande como Brasil e em que alguns locais ainda não têm acesso a internet, o videoativismo pode ser excludente a essas pessoas?

Caballero: De certa forma, sim, pois são experiências muito localizadas e urbanas. Na maioria dos países em que se desenvolvem esses processos de ativismo social, eles têm a ver com grandes aglomerações, mas existem experiências muito interessantes com telecentros, infocentros, uma rede que tem importância no Brasil, que vincula os espaços locais a uma dimensão plural, com o trabalho de novas tecnologias. Evidentemente, não como movimentos sociais de ativismo, mas como inclusão digital, com processo de desenvolvimento rural, trabalhando com novas tecnologias.

Uma forma forte experiência do Brasil, além disso, temos que lembrar que MST e outros processos de ativismo social vem trabalhando com novas tecnologias, não só para denunciar as formas coloniais, mas também para a própria organização da movimentação social. A priori, evidentemente, o videoativismo é um processo basicamente urbano, mas eu assinalo casos de outros países como Colômbia, Chile, onde esses processos são basicamente rurais de ativismo, de forma menor, mas que existem também porque os jovens têm essa cultura tecnológica que antigamente não era possível.

É um processo urbano, em um sentido de que cada vez mais esses processos são mais fluídos, então permitem integrar setores que são tradicionalmente excluídos.

– Você citou que às vezes as faculdades têm dificuldade de discutir esse videoativismo dentro do espaço acadêmico, por que isso acontece?

Caballero: Acho que têm um conceito conservador da ciência e do ensino superior, e esse é um conceito moderno, que traz um caso concreto da linha crítica de ativismo social. Se separa pesquisa da ação, e nessa separação da pesquisa e da ação, que não corresponderia com o pensamento complexo contemporâneo, em que a pesquisa que tem que cada vez mais responder a problemas concretos, tratando em isolar como não-científicas certas perguntas vinculadas a questões sociais.

Por outro lado, especificamente a tecnologia, ou a revolução digital, acredito que de maneira geral, não posso falar em detalhes do Brasil, mas em geral, as faculdades de comunicação, não estão assumindo a mudança revolucionária da dimensão digital. Isso implica em outro modelo de governança e de pensar os processos vinculados à comunicação com as novas tecnologias. Primeiramente, é preciso ver com uma visão, de que com a teoria moderna clássica, estamos distantes das transformações sociais.

– Você acredita que o videoativismo teve impacto na mídia tradicional, ou as duas coisas ficaram totalmente separadas?

Caballero: Está tendo, por exemplo, na nova narrativa de ficção. O roteiro se imagina numa estética cada vez mais de videoativismo, e um modo de contar e fazer que sai dos jornais tradicionais, do jornalismo televisivo, mas acontece na ficção. Você vê certos elementos, narrativas, mas a mudança é em processos de coprodução, que se supõe com a nova televisão terrestre, é possível um processo mais interativo do próprio público, mas ainda não está sendo suficiente.

Estou vendo na estética da ficção certo elemento de um certo hiperrealismo, e uma narrativa muito mais natural que corresponde com a vida, na ficção televisiva isso está mudando na estética do videoativismo, em parte.

– De que maneira podemos aumentar a interdisciplinaridade dentro das Universidades?

González: Estudando de maneira menos pré-científica os processos de conhecimento, essa é uma condição futura, não é imediata. Porque temos que romper um monte de preconceitos, um monte de pré-noções que temos sobre o ofício de ver como inteligíveis os objetos. Então, por isso, eu diria que uma condição para entender os sistemas complexos, a teoria que está de trás disso, é uma teoria de natureza genética que é uma ciência positiva dos processos de conhecimento que tem uma coerência lógica muito forte, que foi construída para ser invalidade, para ser falsificada.

Seria também, conversar, facilitar os momentos de escuta, quando você tem um grande pesquisador ou pesquisadora que fala muito bem e você pergunta “mas como você construiu seu objeto de estudo?”, você vai aprender muito. Depois converse com um médico, e vá anotando, pois no fundo a teoria dá os elementos para conversar. Não das palavras, “eu não conheço o conceito de buraco negro”, mas isso é questão de linguagem, os processos que esses conceitos representam podem ser perfeitamente entendidos se conversados.

Mas esses espaços de conversa e encontro honesto entre estudantes quase não acontecem, você está ocupadíssima fazendo exames e trabalhos. Isso passa por uma reforma forte da universidade, dos sistemas educativos, mas dá também para começar a fazer trabalho de formiguinha.

– Temos uma dificuldade grande em levar o conhecimento científico a todas as pessoas, você acha que essa falta de diálogo entre as áreas também prejudica essa divulgação científica?

González: Claramente. A falta de diálogo das áreas e a falta de conhecimento, porque as pessoas na rua também criam conhecimento, é outro tipo de conhecimento, mas os mecanismos são os mesmos do cientista. Sabendo isso, alguma coisa dentro tem que descer para a humildade. Claramente falta essa aproximação da universidade com a sociedade, porque às vezes a universidade dá a ideia de que a gente está aqui dentro como seres superiores.

No meu livro falo sobre quatro componentes que prejudicam o conhecimento, que são: considerar sua cultura e raça melhores, preconceito de classes, machismo e o preconceito contra as pessoas mais velhas, que é ainda pior contra as mulheres. Todas essas noções acontecem no mundo acadêmico, mas também lá fora.

Essa coisa de ver a universidade como algo especial, não só qualifica demais, mas também dá maior responsabilidade. Estamos na elite, da elite, mas o mundo precisa de conhecimento e precisa de ação, conhecimento é ação. Mas se é ação, tem que diferenciar, precisa de voz, integrações para a ação dar mais certo. Precisamos ser menos surdos, estarmos mais abertos para escutar.

Se você gosta de dançar, você nem sabe quantos elementos são usados para que um movimento seja feito. Neurônios, tendões, órgãos, que estão combinados para fazer uma ação, para falar. É a integração, ninguém sozinho produz isso. Então, quando você começa a entender isso e que tem muitas coisas na vida que valem a pena, talvez desçamos do nosso grande ego, talvez não seja fácil, mas precisamos colaborar, o conhecimento é coletivo e é comum.

Tomado de Portal Metodista Brasil:  http://portal.metodista.br/poscom/noticias/francisco-caballero-e-jorge-gonzalez-discutem-ativismo-social-e-pesquisa-interdisciplinar

Conferencia en Brasil: Videoactivismo y nuevas prácticas emancipadoras

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El próximo 05 de septiembre en el marco del IX Coloquio COMUNICACIÓN:  La acción social y la investigación interdisciplinaria que se celebrará en Sao Paulo, Brasil, el Director General de CIESPAL, Dr. Francisco SIERRA CABALLERO participará con la conferencia Videoactivismo y nuevas prácticas emancipadoras y compartirá espacio con el Dr. Jorge GONZÁLEZ, profesor de la UNAM, quien dictará la conferencia El estudio de los procesos de comunicación desde una metodología interdisciplinaria.

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Nueva comunicología latinoamericana

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Francisco SIERRA CABALLERO

Hay tiempos que condensan la aceleración de la historia y la viva potencia transformadora de las turbulencias de la naturaleza. Nuestro tiempo, el actual proceso de transición histórica podría decirse que es de este tenor. En CIESPAL, observamos en los últimos años que los cambios tienen lugar con la profundidad y espesor que uno experimenta en la propia vida cotidiana y parece ser que la Academia de algún modo,  si bien tardío, también comienza articular otro sentido de su práctica teórica. A riesgo de equivocarnos, sentimos que algo empieza a moverse en la Comunicología Latinoamericana tan necesitada, tras la contrarrevolución conservadora que asaltó las universidades en los ochenta, de nuevas miradas y un retorno a sus fuentes originales como pensamiento de la liberación. El próximo encuentro de INTERCOM en Sao Paulo es una prueba de ello. La pionera escuela paulistana celebra el 50 Aniversario de la ECA y con ello mi estimado colega Giovandro Marcus Ferreira, responsable de Relaciones Internacionales de Intercom, nos convoca a distinguidos colegas como Jorge González, Raúl Fuentes, Immacolata Vassallo y, desde luego, el propio Marques de Melo, entre otros, a repensar la investigación en comunicación en América Latina.

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Tecnopolítica y nuevo tiempo social

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Por Francisco Sierra Caballero

Del paro agrario en Colombia al movimiento Passe Livre en Brasil, del periodismo digital y la lucha mapuche por la tierra a las radios comunitarias en red de Bolivia, pasando por Yo soy 132 de México o la revolución de los pingüinos de Chile, la tecnopolítica inaugura en la región, en la última década, un tiempo nuevo que requiere formular con cierta urgencia una agenda de trabajo en común entre movimientos sociales y academia para conectar y definir un proyecto de construcción colectiva que trascienda los marcos y normas establecidos por la Comunicación como Dominio. Esta voluntad transformadora de articulación de un programa de trabajo o plataforma en común no puede, como es lógico, partir de cero. Cabe recordar el proceso de innovación social vivido en América Latina a lo largo de las décadas sesenta y setenta. Aún hoy, entre culturas y tradiciones diversas que conforman el amplio sector comunitario de la comunicación, numerosos agentes y actores colectivos continúan sosteniendo la idea revolucionaria de la comunicación participativa reivindicando la praxis con ellos a partir de la economía moral de la multitud y la experiencia rica y diversa de las culturas populares.

Desde los frentes culturales y las luchas por la democracia informativa liderada por la Comunicación Comunitaria como campo de producción autónoma de articulación de voces, como abertura contrahegemónica para el cambio social, de la resistencia a la crítica antagonista, el trabajo de organizaciones pioneras como ALER, ALAI o SIGNIS, entre otras muchas, ha venido contribuyendo al desarrollo de procesos de producción y apropiación tecnológica basado en la organización, la unidad y el empoderamiento grupal y colectivo que hoy deben ser tomados en consideración para una plataforma y agenda común en América Latina. Ahora bien, en la era de la denominada por Castells Autocomunicación de Masas, parece lógico revisitar críticamente, hasta sus últimas consecuencias, las nuevas experiencias de tecnopolítica que se observan en la región, en un ejercicio de reflexividad dialéctica, recursiva y generativa del campo, para recomponer las posiciones de observación, definir cambios de objeto y proyectar nuevos usos y estrategias de redes frente a la ciberguerra y la constante intervención que observamos en iniciativas de la USAID aplicadas en países como Cuba o Brasil. En ello nos jugamos el futuro, y en nuestros países periféricos la posibilidad misma de desarrollo autónomo.

Convendría subrayar sobremanera este hecho, porque nos tememos que el llamado tercer sector no es del todo consciente de esta situación contradictoria. No siempre fue así en la tradición latinoamericana. Desde “Para leer al Pato Donald”, el pensamiento crítico en comunicación ha procurado deconstruir en todo momento el proceso neocolonialista de las industrias culturales y de la teoría funcionalista o etnocéntrica occidental, hibridando, releyendo, reescriturando de nuevo la historia y el pensamiento desde su topología y mundos de vida concretos.

Sabemos que las tecnologías de información y comunicación (TICs) son dispositivos de expresión de la acción colectiva que surgen como resultado de la innovación, al tiempo que articulan para los movimientos sociales, desde el punto de vista de la mediación social, nuevas condiciones de disputa de la hegemonía en la lucha por el código. De ahí la pertinencia de un abordaje sociocultural de las mediaciones, aperturas y modelos de hibridación del espacio público que tienen lugar en las contradictorias dinámicas de articulación de la cibercultura contemporánea. De acuerdo con la Carta sobre Derechos en Internet de la Asociación para el Progreso de las Comunicaciones (APC), “El acceso a internet se ha incrementado a pesar de la constante exclusión de comunidades marginales y de miles de personas en países en vías de desarrollo.  Al mismo tiempo, se la ve cada vez más sujeta a la comercialización, al poder y al control corporativos.  Las nuevas tecnologías de información y comunicación (TIC), incluido la internet, son parte del proceso de globalización – un proceso que se lleva a cabo en términos desiguales y que suele exacerbar las desigualdades sociales y económicas entre países y dentro de los mismos.  A la vez, la internet y las tecnologías relacionadas pueden convertirse en herramientas para la resistencia, la movilización social y el desarrollo cuando están en las manos de individuos y organizaciones que trabajan por la libertad y la justicia.” (APC, 2002).

Nuevos desafíos

En este nuevo marco de intervención, no podemos obviar que emerge un nuevo sujeto o actor-red. “En particular, la transformación de la subjetividad de los procesos identitarios por el desplazamiento de los referentes culturales, corporales, espacio-temporales, geográficos y políticos, en un ágora electrónica, de despersonalización para algunos, de exacerbación del yo, o de una subjetividad compartida para otros, es un asunto que requiere de nuestra atención. El cruce de normativas que opera en la red está configurando un nuevo espacio para la construcción del otro y en consecuencia para pensar la ciudadanía” (Rueda, 2006: 29). La transformación de los vínculos sociales en el ciberespacio anticipa, en fin, nuevas formas de ciudadanía. Por ello, los movimientos sociales, el voluntariado y las ONGs deben asumir la centralidad de la tecnopolítica y definir estrategias en común en las redes electrónicas y telecentros, en la medida que toda máquina “es una concatenación no sólo de tecnología y saber, sino también de órganos sociales, llegando al extremo de ejercer una coordinación de los trabajadores y las trabajadoras individuales” (Raunig, 2008: 28). La visión matricial en red implica, en esta línea, mayor flexibilidad, interconexión, horizontalidad y cercanía. Más comunicación y menos información, de acuerdo al paradigma o enfoque de la mediación.

La cuestión, pues, es ver si las redes digitales nos permiten articular espacios socialmente abiertos, innovadores y autónomos, si contribuyen a establecer reglas y procedimientos, contrapoderes y espacios de interlocución y empoderamiento o, por el contrario, replican lógicas de dominio tradicionales tal y como se ha observado recientemente en Bolivia. Por ello, quizás hemos de volver a transitar el desplazamiento de lo tecnoinstrumental a lo sociopolítico, aprendiendo de nuevo a politizar críticamente la generación social de la comunicación y la cultura en una época de creciente disgregación y mercantilización del universo simbólico por las lógicas de mercificación de la innovación tecnológica y social. De no hacer, como viene planteando Mattelart, una crítica al cibercontrol, los procesos de cambio que vive América Latina corren el peligro de ser presas de la jaula digital y las estrategias de dominio de lo que antaño se denominara cultura tecnotrónica. Confiamos en la inteligencia creativa y emancipadora del tejido social. Es hora de situar en el centro estas cuestiones para una agenda común. El cómo y desde dónde es una cuestión a definir en territorio y desde lo concreto. Urbi et Orbi.

– Francisco Sierra Caballero es catedrático de Teoría de la Comunicación. Director del Grupo Interdisciplinario de Estudios en Comunicación, Política y Cambio Social (SEJ-456. Plan Andaluz de Investigación). www.franciscosierracaballero.net

Referencias

APC (2002). Carta de APC sobre derechos en Internet: Internet por el desarrollo y la justicia socialhttp://www.alainet.org/es/active/11844 (anexo II)

Lago, Silvia (Comp.) (2012). Ciberespacio y resistencias. Exploración en la cultura digital.Buenos Aires: Hekht Libros.

Raunig, Gerald (2008). Mil máquinas. Breve filosofía de la máquina como movimiento social. Madrid: Traficantes de Sueños.

Rueda, Rocío (2006): “Apropiación social de las tecnologías de la información: ciberciudadanías emergentes” en Tecnología Educativa, ILCE, número 4, México.

Sierra, Francisco y David Montero (Eds.) (2015). Videoactivismo y movimientos sociales.Barcelona: Gedisa.

Artículo publicado en la Revista América Latina en Movimiento: La comunicación en disputa 02/06/2016

 

Tomado de Radio CADENA NACIONAL de Argentina: http://radiocadenanacional.com.ar/2016/06/23/tecnopolitica-y-nuevo-tiempo-social/